A Intel e o Governo dos Estados Unidos fecharam um acordo inédito para acelerar a liderança do país no setor de semicondutores. O governo investirá U$$ 8,9 bilhões em ações da Intel, consolidando uma participação de quase 10% na empresa. O movimento é estratégico e trata de fortalecer a fabricação de chips dentro do território americano, setor considerado vital para a segurança nacional e para o avanço da inteligência artificial.

Esse investimento faz parte de uma política mais ampla de incentivo à indústria tecnológica, especialmente dentro da Lei Chips e Ciência ( CHIPS and Science Act – Lei Federal dos Estados Unidos, promulgada no dia 09 de agosto de 2022, com o objetivo de incentivar a fabricação de semicondutores e fortalecer a pesquisa científica e tecnológica no país) criada para diminuir a dependência dos EUA de fabricantes estrangeiros, como Taiwan e Coreia do Sul.
Semicondutores: por que eles são tão importantes?
Os semicondutores estão praticamente em tudo: celulares, computadores, carros, eletrodomésticos, e principalmente, tecnologias avançadas com inteligência artificial e os supercomputadores. Sem os semicondutores não existe evolução em áreas como a inteligência artificial, a defesa nacional e a exploração espacial, dentre outras. Por isso, garantir a produção dentro dos Estados Unidos é uma questão tanto econômica quanto estratégica.
Detalhes do acordo Intel x Governo Trump
O acordo prevê que os Estados Unidos comprem 433,3 milhões de ações da Intel a U$$ 20,47 cada, garantindo ao governo uma fatia de 9,9 % da empresa. Esse valor representa um desconto em relação ao preço de mercado, que estava em torno de U$$ 24,80 no fechamento do último pregão.
Importante destacar é que o governo não terá assento no conselho da Intel, ou seja, não vai influenciar diretamente nas decisões da companhia. A participação será passiva, com o governo atuando como investidor e não como controlador. Isso tranquiliza os investidores privados, pois garante que a gestão seguirá sob a responsabilidade da empresa.
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Além disso, o governo receberá um warrant (direito de compra futura) de 5 anos, que permite adquirir mais 5% das ações, mas só poderá ser exercido se a Intel perder o controle majoritário (51%) da sua divisão de fabricação de chips.
A origem do dinheiro
Muita gente pode pensar que esse é um novo gasto público, mas na prática é uma conversão de subsídios em participação acionária.
O valor de U$ 8,9 bilhões virá de :
- U$$ 5,7 bilhões em subsídios prometidos à Intel pelo CHIPS and Science Act (Lei), mas que não haviam sido pagos.
- U$$ 3,2 bilhões do programa Secure Enclave, uma iniciativa que envolve a produção de chips seguros para o Departamento de Defesa dos EUA.
A Itel já havia recebido U$$ 2,2 bilhões em subsídios anteriores, somando um total de U$$ 11,1 bilhões investidos pelo governo americano na companhia.
O Governo Trump deixou claro que esse movimento é estratégico na busca por três grandes objetivos:
- Fortalecer a segurança nacional: chips de ponta são fundamentais para a defesa, sistemas militares e tecnologias embarcadas com inteligência artificial
- Reforçar a economia: fabricar semicondutores em solo americano gera empregos altamente qualificados e reduz a dependência de países estrangeiros.
- Liderança global em tecnologia: em um cenário onde a China, Taiwan e Coreia do Sul dominam a produção, os EUA precisam garantir espaço competitivo.
O secretário de comércio, Howar Lutnick. afirmou que os EUA estão comprometidos em liderar a revolução da inteligência artificial e que esse investimento vai impulsionar ainda mais a competitividade do país.
A Intel é a única empresa americana que ainda faz P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e fabricação de chips de ponta dentro do território americano. Esse diferencial explica porque ela foi escolhida como peça- chave no plano estratégico dos EUA.
Nos últimos cinco anos, a empresa já investiu U$$ 108 bilhões em capital e U$$ 79 bilhões em P&D, a maior parte em território americano. Atualmente, a Intel está expandindo sua capacidade de produção com mais de U$$ 100 bilhões em fábricas nos EUA, incluindo a unidade do Arizona, que deve iniciar a sua produção em larga escala ainda este ano.
Reações do setor da tecnologia
Grandes nomes da tecnologia americana se pronunciaram em apoio ao acordo. Satya Nadella, CEO da Microsoft, destacou a parceria de décadas com a Intel e afirmou que o investimento fortalece o ecossistema tecnológico americano.
Michael Dell, CEO da Dell Technologies, reforçou que uma indústria de semicondutores forte nos EUA é fundamental e que a Intel tem papel central nessa missão. Enrique Lores, CEO da HP chamou o acordo de momento decisivo para a inovação global. E Matt Garman, CEO da AWS (Amazon Web services) ressaltou que semicondutores avançados são a base de toda a tecnologia de nuvem e inteligência artificial.
O consenso é que esse movimento não apenas beneficia a Intel, mas reforça todo o ecossistema tecnológico dos Estados unidos.
Impacto no mercado financeiro
No dia do anúncio, as ações da Intel reagiram positivamente. O papel, que havia aberto em U$$ 23,6, subiu mais de 5% e fechou em U$$ 24,80. O mercado interpretou a entrada do governo como um sinal de confiança no futuro da empresa, além do fortalecimento da indústria como um todo.
Vale lembrar que, além do governo, a Intel também recebeu um investimento de U$$ 2 bilhões da SoftBank, que comprou ações a U$$ 23 cada. Isso indica que outros gigantes também acreditam na capacidade da empresa de se recuperar e ganhar relevância global novamente.
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Desafios pela frente
Apesar da euforia, existem riscos. A indústria de semicondutores é altamente competitiva e exige investimentos bilionários com retorno a longo prazo. A Intel precisa recuperar espaço perdido para a TSMC (Taiwan) e a Samsung (Coreia do Sul); entregar tecnologia de ponta capaz de competir em desempenho e eficiência com rivais asiáticos; garantir a execução dos planos de expansão sem atrasos ou falhas; e superar tensões geopolíticas que podem afetar cadeias de suprimentos globais.
Ou seja, o acordo dá um fôlego importante, mas a execução será determinante para o sucesso. Este acordo pode ser visto como um ponto de partida para a indústria de semicondutores nos EUA. Com o governo americano assumindo quase 10% da Intel, a mensagem é clara: a liderança tecnológica é prioridade nacional.
Se tudo correr conforme o planejado, os EUA poderão reduzir a dependência de Taiwan e da China; acelerar a produção de chips avançados no país; atrair outras empresas de tecnologia para fabricar em solo americano; e garantir vantagem competitiva em áreas críticas como a IA, a segurança cibernética e a defesa.
O investimento de U$$ 8,9 bilhões do governo Trump na Intel marca um momento histórico para os Estados Unidos. Não é apenas sobre dinheiro ou ações, mas trata-se de um movimento político e estratégico para garantir que o país lidere a corrida global pela inovação tecnológica.
A Intel, que atravessou anos difíceis, agora ganha um apoio robusto para retomar o protagonismo. Ao mesmo tempo que o governo aposta pesado na reconstrução de uma indústria considerada vital para o futuro.
Se esse plano for bem sucedido, os próximos anos poderão colocar os EUA novamente no centro da revolução dos semicondutores, moldando não só a economia, mas também a geopolítica.