A Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) surpreendeu o mercado nesta semana ao lançar o “Projeto Cripto”, um roteiro ambicioso que promete reposicionar o país como líder global em inovação financeira digital.
O anúncio foi feito pelo presidente da SEC, Paul Atkins, que destacou o objetivo de transformar os EUA na “capital mundial das criptomoedas”. Para isso, a iniciativa pretende atualizar as regras de mercado, incentivar a tokenização de ativos e flexibilizar a classificação de criptoativos, permitindo que muitos deles deixem de ser considerados valores mobiliários.
Essa mudança representa uma guinada radical em relação à gestão anterior de Gary Gensler, marcada por regulações rígidas e processos contra gigantes do setor como Coinbase e Binance.
O papel de Trump na legitimação das criptomoedas
A guinada da SEC não acontece por acaso. Desde a campanha presidencial de 2024, Donald Trump assumiu um discurso fortemente pró-criptomoedas, apesar de já ter sido crítico da tecnologia no passado.
Entre suas primeiras medidas no cargo, está a criação de um grupo de trabalho federal sobre criptomoedas, liderado por David Sacks, considerado o “czar da inteligência artificial e das criptomoedas”. O relatório inicial, com 160 páginas, serviu de base para o novo plano regulatório.
Além disso, Trump sancionou o Genius Act, primeira legislação federal voltada especificamente para stablecoins, permitindo que bancos e cooperativas emitam essas moedas digitais lastreadas no dólar. A medida foi celebrada pelo mercado como uma vitória histórica, já que reduz a burocracia e fortalece a confiança dos investidores.
Como o “Projeto Cripto” pode impactar o mercado

Segundo Atkins, a SEC pretende criar um ecossistema favorável à inovação, sem abrir mão da proteção ao consumidor. Entre os pontos-chave estão:
- Tokenização de ativos: empresas poderão transformar ativos tradicionais (como imóveis ou ações) em tokens negociáveis em blockchain.
- Expansão das DeFi: estímulo a plataformas de finanças descentralizadas, que eliminam intermediários bancários.
- Superaplicativos financeiros: incentivo ao desenvolvimento de apps que combinem pagamentos digitais, redes sociais e outros serviços, como a proposta de Elon Musk para o X.
- Menos burocracia regulatória: simplificação de processos de registro e compliance para empresas de cripto.
Não por acaso, grandes instituições já se movimentam. O JP Morgan anunciou parceria com a Coinbase para permitir compras de criptomoedas via cartões Chase, enquanto o Bank of America confirmou planos para lançar sua própria stablecoin.
As controvérsias em torno da nova política
Apesar do entusiasmo do mercado, críticos alertam para riscos estruturais e éticos. Entre eles:
- Volatilidade: mesmo com stablecoins, o mercado cripto continua sujeito a quedas bruscas.
- Lavagem de dinheiro e golpes: segundo o FBI, em 2024 os americanos perderam mais de US$ 3,9 bilhões em fraudes com criptomoedas.
- Conflito de interesses: a família Trump possui negócios ativos no setor, incluindo a World Liberty Financial e projetos de mineração de Bitcoin liderados por Eric Trump.
A senadora Elizabeth Warren foi uma das vozes mais críticas, afirmando que Trump “está usando a presidência para se enriquecer por meio de criptomoedas, e ele está fazendo isso às claras”.
O que esperar do futuro das criptomoedas nos EUA
O “Projeto Cripto” pode inaugurar uma nova era de inovação financeira nos Estados Unidos, atraindo investimentos e consolidando o país como referência global em blockchain. No entanto, o desafio será equilibrar inovação e segurança, garantindo que o avanço tecnológico não abra brechas para crimes financeiros ou favoreça interesses privados.
A tendência é que, nos próximos meses, vejamos uma crescente adesão de bancos e big techs ao mercado cripto; expansão de stablecoins regulamentadas; novos modelos de negócios baseados em DeFi e tokenização e a intensificação do debate político sobre os limites da regulamentação.
A mudança de postura da SEC sob o governo Trump marca um divisor de águas para o futuro das criptomoedas nos Estados Unidos. Se por um lado abre espaço para uma onda de inovação e investimentos, por outro levanta questões éticas e de segurança que precisarão ser respondidas rapidamente.
No cenário atual, uma coisa é certa: o “Projeto Cripto” coloca os EUA no centro do debate global sobre o futuro do dinheiro digital — e o impacto dessas decisões será sentido em todo o mercado financeiro nos próximos anos.